A pequena alma e o sol - Conto
- Susana Gandarela
- 13 de jan. de 2022
- 8 min de leitura

Este "conto" ensina o Amor 💚 é dos ensinamentos mais lindos que já li.
Era uma vez, em tempo nenhum, uma pequena alma que disse a deus:
-Eu sei quem sou! E deus disse:
-Que bom! quem és tu? E a pequena alma gritou: - eu sou luz e deus sorriu.
-É isso mesmo! - exclamou deus - tu és luz! A pequena alma ficou muito contente, porque tinha descoberto aquilo que todas as almas do reino deveriam descobrir.
-Uauu, isto é mesmo bom! - disse a pequena alma. mas, passado pouco tempo, saber quem era já não lhe chegava. a pequena alma sentia-se agitada por dentro, e agora queria ser quem era. então foi ter com deus (o que não é má ideia para qualquer alma que queira ser quem realmente é) e disse:
-Olá deus! Agora que sei quem sou, posso sê-lo? E deus disse:
-Quer dizer que queres ser quem já és?
-Bem, uma coisa é saber quem sou, e outra coisa é sê-lo mesmo. Quero sentir como é ser a luz! - respondeu a pequena alma.
-Mas tu já és luz - repetiu deus, sorrindo outra vez.
-Sim, mas quero senti-lo! - gritou a pequena alma.
-Bem, acho que já era de esperar, tu sempre foste aventureira - disse deus com uma risada. Depois a sua expressão mudou.
-Há só uma coisa...
-O quê? - perguntou a pequena alma.
-Bem, não há nada para além da luz, porque eu não criei nada para além daquilo que tu és; por isso, não vai ser fácil experimentares-te como quem és, porque não há nada que tu não sejas.
-Hã? - disse a pequena alma, que já estava um pouco confusa.
-Pensa assim: tu és como uma vela ao sol, estás lá sem dúvida, tu e mais milhões, ziliões de outras velas que constituem o sol, e o sol não seria o sol sem vocês. Não seria um sol sem uma das suas velas... e isso não seria de todo o sol, pois não brilharia tanto, e no entanto, como podes conhecer-te como a luz quando estás no meio da luz - eis a questão.
-Bem, tu és deus, pensa em alguma coisa! - disse a pequena alma mais animada.
Deus sorriu novamente. - Já pensei, já que não podes ver-te como a luz quando estás na luz, vamos rodear-te de escuridão - disse deus. - O que é a escuridão? perguntou a pequena alma. - É aquilo que tu não és - replicou deus. - Eu vou ter medo do escuro? - choramingou a pequena alma. - Só se o escolheres, na verdade não há nada de que devas ter medo, a não ser que assim o decidas, porque estamos a inventar tudo, estamos a fingir. - Ah! - disse a pequena alma, sentindo-se logo melhor.
Depois deus explicou que, para se experimentar o que quer que seja, tem de aparecer exactamente o oposto. - É uma grande dádiva, porque sem ela não poderíamos saber como nada é - disse deus - não poderíamos conhecer o quente sem o frio, o alto sem o baixo, o rápido sem o lento. Não poderíamos conhecer a esquerda sem a direita, o aqui sem o ali, o agora sem o depois. e por isso, - continuou deus -quando estiveres rodeada de escuridão, não levantes o punho nem a voz para amaldiçoar a escuridão. Sê antes uma luz na escuridão, e não fiques furiosa com ela. Então saberás quem realmente és, e os outros também o saberão. deixa que a tua luz brilhe tanto que todos saibam como és especial! - Então posso deixar que os outros vejam que sou especial? - perguntou a pequena alma. - Claro! - deus riu-se. - claro que podes! Mas lembra-te de que "especial" não quer dizer "melhor"! Todos são especiais, cada qual à sua maneira! Só que muitos esqueceram-se disso, esses apenas vão ver que podem ser especiais quando tu vires que podes ser especial! - Uau - disse a pequena alma, dançando e saltando e rindo e pulando. - posso ser tão especial quanto quiser! - Sim, e podes começar agora mesmo - disse deus, também dançando e saltando e rindo e pulando juntamente com a pequena alma - que parte de especial é que queres ser? - Que parte de especial? - repetiu a pequena alma. - não estou a perceber. - Bem, - explicou deus - ser a luz é ser especial, e ser especial tem muitas partes, é especial ser bondoso, é especial ser delicado, é especial ser criativo, é especial ser paciente... conheces alguma outra maneira de ser especial? A pequena alma ficou em silêncio por um momento. - Conheço imensas maneiras de ser especial! - exclamou a pequena alma - é especial ser prestável, é especial ser generoso, é especial ser simpático, é especial ser atencioso com os outros. - Sim! - concordou deus - e tu podes ser todas essas coisas, ou qualquer parte de especial que queiras ser, em qualquer momento. É isso que significa ser a luz. - Eu sei o que quero ser, eu sei o que quero ser! - proclamou a pequena alma com grande entusiasmo. - quero ser a parte de especial chamada "perdão", não é ser especial alguém que perdoa? - Ah, sim, isso é muito especial, assegurou deus à pequena alma. - Está bem, é isso que eu quero ser. Quero ser alguém que perdoa, quero experimentar-me assim - disse a pequena alma.
- Bom, mas há uma coisa que devias saber - disse deus. A pequena alma já começava a ficar um bocadinho impaciente, parecia haver sempre alguma complicação.
- O que é? - suspirou a pequena alma.
- Não há ninguém a quem perdoar.
- Ninguém? A pequena alma nem queria acreditar no que tinha ouvido.
- Ninguém! - repetiu deus. Tudo o que eu fiz é perfeito. Não há uma única alma em toda a criação menos perfeita do que tu, olha à tua volta.
Foi então que a pequena alma reparou na multidão que se tinha aproximado, outras almas tinham vindo de todos os lados - de todo o reino - porque tinham ouvido dizer que a pequena alma estava a ter uma conversa extraordinária com deus, e todas queriam ouvir o que eles estavam a dizer. Olhando para todas as outras almas ali reunidas, a pequena alma teve de concordar, nenhuma parecia menos maravilhosa, ou menos perfeita do que ela. Eram de tal forma maravilhosas, e a sua luz brilhava tanto, que a pequena alma mal podia olhar para elas. - Então, perdoar quem? - perguntou deus. - Bem, isto não vai ter piada nenhuma! - resmungou a pequena alma - eu queria experimentar-me como aquela que perdoa, queria saber como é ser essa parte de especial. E a pequena alma aprendeu o que é sentir-se triste. Mas, nesse instante, uma alma amiga destacou-se da multidão e disse: - Não te preocupes, pequena alma, eu vou ajudar-te - disse a alma amiga. - Vais? - a pequena alma animou-se. - mas o que é que tu podes fazer? - Ora, posso dar-te alguém a quem perdoares! - Podes? - Claro! - disse a alma amiga alegremente. - posso entrar na tua próxima vida física e fazer qualquer coisa para tu perdoares. - Mas porquê? Porque é que farias isso? - perguntou a pequena alma. - tu, que és um ser tão absolutamente perfeito! Tu, que vibras a uma velocidade tão rápida a ponto de criar uma luz de tal forma brilhante que mal posso olhar para ti! O que é que te levaria a abrandar a tua vibração para uma velocidade tal que tornasse a tua luz brilhante numa luz escura e baça? O que é que te levaria a ti, que danças sobre as estrelas e te moves pelo reino à velocidade do pensamento, a entrar na minha vida e a tornares-te tão pesada a ponto de fazeres algo de mal? - É simples - disse a alma amiga. - faço-o porque te amo. A pequena alma pareceu surpreendida com a resposta. - Não fiques tão espantada - disse a alma amiga - tu fizeste o mesmo por mim, não te lembras? Ah, nós já dançámos juntas, tu e eu, muitas vezes. dançámos ao longo das eternidades e através de todas as épocas. Brincámos juntas através de todo o tempo e em muitos sítios. Só que tu não te lembras, já fomos ambas o todo, fomos o alto e o baixo, a esquerda e a direita, fomos o aqui e o ali, o agora e o depois, fomos o masculino e o feminino, o bom e o mau - fomos ambas a vítima e o vilão. Encontrámo-nos muitas vezes, tu e eu; cada uma trazendo à outra a oportunidade exacta e perfeita para expressar e experimentar quem realmente somos. - E assim, - a alma amiga explicou mais um bocadinho - eu vou entrar na tua próxima vida física e ser a "má" desta vez, vou fazer alguma coisa terrível, e então tu podes experimentar-te como aquela que perdoa. - Mas o que é que vais fazer que seja assim tão terrível? - perguntou a pequena alma, um pouco nervosa. - oh, havemos de pensar nalguma coisa - respondeu a alma amiga, piscando o olho. Então a alma amiga pareceu ficar séria, disse numa voz mais calma: - Mas tens razão acerca de uma coisa, sabes? - Sobre o quê? - perguntou a pequena alma. - Eu vou ter de abrandar a minha vibração e tornar-me muito pesada para fazer esta coisa não-muito-boa, vou ter de fingir ser uma coisa muito diferente de mim, e por isso, só te peço um favor em troca. - Oh, qualquer coisa, o que tu quiseres! - exclamou a pequena alma, e começou a dançar e a cantar: - eu vou poder perdoar, eu vou poder perdoar! Então a pequena alma viu que a alma amiga estava muito quieta. - O que é? - perguntou a pequena alma. - o que é que eu posso fazer por ti? És um anjo por estares disposta a fazer isto por mim!
- Claro que esta alma amiga é um anjo! - interrompeu deus, - são todas! lembra-te sempre: não te enviei senão anjos.
E então a pequena alma quis mais do que nunca satisfazer o pedido da alma amiga.
- O que é que posso fazer por ti? - perguntou novamente a pequena alma.
- No momento em que eu te atacar e atingir, - respondeu a alma amiga - no momento em que eu te fizer a pior coisa que possas imaginar, nesse preciso momento...
- Sim? - interrompeu a pequena alma - sim? A alma amiga ficou ainda mais quieta.
- Lembra-te de quem realmente sou.
- Oh, não me hei-de esquecer! - gritou a pequena alma - prometo! lembrar-me-ei sempre de ti tal como te vejo aqui e agora.
- Que bom, - disse a alma amiga - porque, sabes, eu vou estar a fingir tanto, que eu própria me vou esquecer, e se tu não te lembrares de mim tal como eu sou realmente, eu posso também não me lembrar durante muito tempo, e se eu me esquecer de quem sou, tu podes esquecer-te de quem és, e ficaremos as duas perdidas. Então, vamos precisar que venha outra alma para nos lembrar às duas quem somos.
- Não vamos, não! - prometeu outra vez a pequena alma. - eu vou lembrar-me de ti! E vou agradecer-te por esta dádiva - a oportunidade que me dás de me experimentar como quem eu sou.
E assim o acordo foi feito, e a pequena alma avançou para uma nova vida, entusiasmada por ser a luz, que era muito especial, e entusiasmada por ser aquela parte especial a que se chama perdão.
E a pequena alma esperou ansiosamente pela oportunidade de se experimentar como perdão, e por agradecer a qualquer outra alma que o tornasse possível.
E, em todos os momentos dessa nova vida, sempre que uma nova alma aparecia em cena, quer essa nova alma trouxesse alegria ou tristeza - principalmente se trouxesse tristeza - a pequena alma pensava no que deus lhe tinha dito.
Lembra-te sempre - deus aqui tinha sorrido -, não te enviei senão anjos
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