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KLESHAS

Inicialmente, consideramo-nos como um corpo físico ou um conjunto de corpo-mente, regido por  impulsos e instintos.


O sofrimento (dukha), deve-se ao nosso condicionamento desde o nascimento até ao fim da vida. Tendemos a pensar e a agir de acordo com o conceito que temos de nós próprios (formado pela visão de quem somos, aos olhos de quem nos rodeia). Isto tem profundas implicações psicológicas e sociais, que podem ser úteis ao indivíduo ou à sociedade, mas são restritivas para o nosso desenvolvimento espiritual. Ao longo da vida, formamos conceitos verídicos e falsos de quem somos na realidade.


Segundo a filosofia do yoga, nascemos com uma herança de padrões mentais e emocionais. As nossas  experiências, que deixam a sua marca ou impressão, (samskara), podem levar a mente a lugares edificantes, que nos alimentam positivamente, ou então para lugares escuros, que obscurecem a mente e nos levam à confusão.  Através de uma prática equilibrada, atingimos o discernimento de quais os samskaras que devem ser reforçados e quais os que devem ser restringidos.


Os cinco kleshas (instabilidades) variam de intensidade na nossa psique, com a Avidya (ignorância) a ser a raiz dos outros. São a  causa do equívoco da nossa verdadeira realidade, fazendo com que aceitemos o temporário como eterno,  criando sofrimento. Os kleshas também nos prendem ao ciclo de nascimento e renascimento, e assim impedem-nos de alcançar o auto-conhecimento e a libertação (moksha). 


São traduzidos nos textos de Yoga como: dor, sofrimento, transtorno, tormento, trabalho pesado, esforço ou causas de aflição.


Os kleshas são tipos de instabilidades (vrittis) frequentemente observados no caminho do sádhana (na prática). As marcas deixadas pelas nossas experiências (samskaras) são a causa dos cinco kleshas (fontes de sofrimento, instabilidades). Os kleshas são:


AVIDYÁ

Necessidade, ignorância maior, falta de inteligência, educação ou cultura, desconhecimento.  A ignorância é o nosso estado natural quando não exercemos qualquer influência sobre a mente,  deixando-a ser confundida com o que, na vida, é permanente e o que é efémero (o que não muda e o que muda). Avidyá é considerado a causa dos outros kleshas. Swami Satchidananda descreve-o como sendo “o campo para as instabilidades mencionadas a seguir, estejam elas dormentes, fracas, interceptadas, ou sustentadas.”  


ASMITÁ 

Egoísmo, identificação com o Ego, a noção de “eu-sou”, sensação de se ser separado do todo ao seu redor,  distanciamento do meio que o envolve.  Este klesha refere-se ao pensamento da existência individualizada, que permeia o complexo de corpo-mente por inteiro. É esta percepção individualizada que contém projeções falsas de quem somos na realidade.  Como não é fácil perceber a existência do Ser, identificamo-nos com o corpo-mente, a nossa identidade social,  os nossos atributos individuais de personalidade e as nossas experiências. É necessário alterar a nossa percepção  da realidade que o ego projeta, de modo que todo o universo deixe de ser dividido em “eu” versus “não-eu”,  desenvolvendo a capacidade de perceber-se a si mesmo e atingindo a percepção da diferença entre o Ego e o Ser. 


RÁGA 

Apego, atração, excesso de paixão, desejo, identificação com os fenómenos da personalidade como a  felicidade e a tristeza. 

O resultado da ignorância da nossa verdadeira natureza faz com que percebamos a nossa existência como sendo dolorosa. Desenvolvemos várias estratégias para nos distrairmos desta existência, acabando por criar uma atração e apego aos acontecimentos agradáveis – passados e presentes – para satisfazer e ampliar o “eu”.  Desejamos adquirir qualquer coisa que possa proteger a nossa frágil existência individualizada, como por  exemplo, segurança, amor, reconhecimento, riqueza, ou poder. Contudo, a atração para as coisas e a sua  aquisição é limitada e transitória; os nossos sentimentos de prazer desaparecem e recomeçamos a nossa busca, inevitavelmente, tornando-nos presos num ciclo interminável.


DVESHAHA 

Aversão, geralmente é provocada por registros de dor ou traumas. Às vezes, quando percebemos que todos os objetos/objetivos dos nossos desejos são efémeros, e  portanto, sujeitos à perda a qualquer momento, sentimo-nos ansiosos. Na ocorrência da perda, o sofrimento e a  dor causada desenvolvem sentimentos de desgosto, raiva, e até, ódio. O desenvolvimento da aversão para evitar a mesma experiência, leva-nos a criar ainda mais padrões de aquisição numa tentativa de nos  distrairmos dos sentimentos negativos. 


ABHINIVESHA 

Medo, medo da morte, vontade de viver.  A nossa identificação com o complexo do corpo-mente e o nosso apego aos padrões de aquisição para o satisfazer, leva-nos a temer o fim da nossa existência com a morte do corpo físico. Podemos estar conscientes ou não desse temor, tal como podemos estar conscientes ou não que a morte seja algo fora do nosso controle.  Podemos sentir que a morte representa um fim da nossa capacidade de satisfazer os desejos, e ao pensar que  deixaremos de existir, aumenta o apego à vida. 


Qual é a função dos Kleshas? 


 Os Kleshas existem como uma proteção, são barreiras, são a resposta a um condicionamento e a  oportunidade de uma aprendizagem. 

 Os Kleshas são fatores de servidão, que segundo a visão do Yoga têm a sua base na ignorância ou  no desconhecimento. Essa ignorância aprisiona a criatura humana fundamentada num erro metafísico e de  natureza intelectual, que consiste na incapacidade de discernir o Espírito, da Natureza, ou em sânscrito,  Purusha de Prakrti respetivamente. Esse equívoco assumirá formas concretas conduzindo o ser humano a um movimento de atividade psíquica, são as formas ativas de ignorância ou desconhecimento.


Os Kleshas são fenómenos que se tornam conscientes quando o yogi aprende a capacidade de observação das suas vivências na superficialidade ou nas aparências e então vence-os pela sabedoria (jñana).  

 

Aprenda a lidar com os vícios de Kleshas: 



• Sentindo 

• Decidindo transformar o padrão 

• Passando pelo risco da mudança 

• Consagrando uma nova forma de existir. 


A primeira etapa do trabalho com os kleshas é simplesmente reconhecê-los. Ao refletir sobre os kleshas, descobriremos as suas raízes, bem como a forma como criam o sofrimento, o que nos ajudará a  superá-los e a purificar a mente. Libertando-nos dos kleshas, ficaremos com uma consciência mais clara de nós  próprios e da realidade do mundo. 

 

 
 
 

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